Discurso de Lula na ONU

Discurso de Lula na ONU

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos, tratou de diversos assuntos. Dentre os principais temas abordados pelo líder brasileiro, estão recados velados à Donald Trump, soberania e ingerência, multilateralismo, pautas ambientais, regulação das redes sociais e conflitos regionais, principalmente no tocante à guerra em Gaza. A análise de seus temas centrais revela uma busca por reposicionar o Brasil como uma potência intermediária e líder do chamado Sul Global, embora isso nem sempre se alinhe com as expectativas das potências ocidentais.

Soberania, multilateralismo e reforma da ONU

Lula consistentemente defende a soberania de nações, especialmente em relação a recursos naturais e à tomada de decisões internas. Em sua visão, um mundo verdadeiramente multilateral exige que as grandes potências respeitem a autodeterminação dos países menores. Essa postura é a base de sua crítica à ineficácia das instituições globais, como a própria ONU, que ele considera ultrapassadas por não refletirem a nova ordem multipolar. Porém, Lula parece ignorar ou não entender que a ordem mundial pela qual estamos submetidos, foi estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, onde mesmo os países vencedores, tiveram enormes prejuízos, principalmente de perdas de vidas humanas.

Os membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) não conquistaram seus assentos com base em critérios progressistas ou de representatividade. Eles garantiram seus privilégios por terem sido os pilares da vitória sobre o Eixo. O poder de veto foi um mecanismo essencial para garantir que a organização não agisse contra os interesses vitais de seus fundadores, evitando a paralisia que a Liga das Nações sofreu. O fato de que eles não abrirão mão desse poder facilmente não é uma questão de retrocesso, mas de realismo político. Do ponto de vista dessas potências, o poder de veto protege seus interesses nacionais e, em última instância, a ordem global que eles ajudaram a criar. Abrir mão desse privilégio seria ceder parte de sua influência global, algo que nenhuma grande potência faz de bom grado, independentemente dos discursos.

Pautas ambientais citadas em discurso de Lula na ONU

Em contrapartida à política ambiental do governo anterior, Lula tenta assumir o protagonismo na agenda climática global, reforçando a importância da transição energética e da presença dos países na conferência sobre mudanças climáticas. Lula tem viajado frequentemente para se reunir com outros líderes e tem usado sua plataforma para reforçar o compromisso do Brasil com o Acordo de Paris. Lula frequentemente defende que a Amazônia é um território soberano do Brasil. No entanto, ele argumenta que o esforço para protegê-la é um benefício para o mundo inteiro e que, por isso, os países desenvolvidos (que se industrializaram poluindo) devem assumir sua parte da responsabilidade, oferecendo financiamento e tecnologia para o desenvolvimento sustentável da região.

O Brasil tem defendido que a transição energética e o combate às mudanças climáticas não podem ser feitos às custas do desenvolvimento de nações mais pobres. O discurso brasileiro é de que os países desenvolvidos precisam não apenas cortar suas emissões, mas também ajudar financeiramente aqueles que menos contribuíram para o problema, mas que são os mais afetados por ele. A inclusão de pautas como “Perdas e Danos” se alinha a essa visão. Apesar da mudança de rumo, o papel do Brasil não é livre de controvérsias. O governo enfrenta pressões internas e externas. Por exemplo, o debate sobre a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas é um ponto de tensão, gerando críticas de ambientalistas que veem um conflito entre a agenda de desenvolvimento econômico e o compromisso ambiental.

Regulação das redes sociais

A inclusão deste tema em um fórum global como a ONU demonstra a intenção de Lula de internacionalizar um debate doméstico. Ele defendeu a regulação das redes sociais como uma questão de democracia e de segurança, argumentando que a desinformação e o discurso de ódio ameaçam a estabilidade política global. Sua postura reflete a experiência brasileira recente, onde a polarização e as notícias falsas foram percebidas como um risco real. No entanto, a preocupação geral com uma possível regulação das redes é totalmente justificada, visto que, se mal elaborada, ou com definições muito amplas, poderia abrir um precedente perigoso. O risco está na linha tênue entre combater crimes reais (como incitação à violência ou pedofilia) e silenciar críticas legítimas ao governo.

Guerras e conflitos atuais

Com relação a guerra entre Rússia e Ucrânia, Lula tem mantido uma postura de não alinhamento, criticando a invasão russa, mas também se recusando a condenar a Rússia de forma veemente como fazem os EUA e a Europa. Ele se posiciona como um mediador, insistindo que a solução para a guerra não virá pela força, mas sim pelo diálogo e por um cessar-fogo imediato, abordagem considerada ambígua por muitos.

No entanto, com relação ao conflito entre Israel e Hamas em Gaza, Lula já adotou uma posição muito mais crítica em relação a Israel. Sua fala sobre a ofensiva em Gaza, por exemplo, o colocou em rota de colisão com o governo israelense, acusando-o de genocídio. Seu discurso na ONU reforçou o apelo por um Estado palestino e a necessidade de ajuda humanitária.

Em geral, o discurso de Lula na ONU tenta ser ambioso e ao mesmo tempo, pragmático. Ele busca reestabelecer o Brasil como uma voz forte no cenário global, especialmente para os países em desenvolvimento. A crítica a potências ocidentais e a defesa de um mundo mais multipolar demonstram que ele não tem medo de gerar controvérsias para defender o que considera justo.

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