Luciano reclama com árbitro

O clássico da inversão de poder e a arbitragem no limite do aceitável

O Choque-Rei do último domingo (5), que culminou com o triunfo do Palmeiras por 3 a 2 sobre o São Paulo no Morumbi e impulsionou o Verdão ao topo da classificação, transcendeu a mera disputa esportiva. Ele representa o perfeito retrato de um revés de supremacia e, mais uma vez, um palco infeliz para o papel central dos juízes. O Palmeiras não só sustenta seu domínio notável no Morumbis em partidas válidas pelo Campeonato Brasileiro – onde o Tricolor não obtém uma vitória em seu estádio desde 2017 –, como também consolida uma sequência invicta de oito embates contra o rival, considerando todas as competições.

O São Paulo teve a proeza de interromper esse ciclo em confrontos de Copa do Brasil e na Supercopa , mas na Série A, em seus próprios domínios, o roteiro é distinto: desde 2018, em sete duelos, foram quatro empates e três êxitos palestrinos. A equipe sob o comando de Abel Ferreira parece ter invertido o antigo tabu de 16 anos que pertencia ao São Paulo , transformando a casa do oponente em um fértil campo de conquistas – é curioso notar que o Palmeiras conquistou o campeonato nacional em 2022 e 2023, anos em que também saiu vitorioso no Morumbis.

As marcas do apito: decisões questionáveis e a lista de reclamações

Embora a vitória do Palmeiras por 3 a 2 tenha facilitado sua ascensão na tabela, ela também lançou uma luz severa e inoportuna sobre a já fragilizada reputação da arbitragem brasileira. O placar veio acompanhado de pelo menos quatro episódios importantes que geraram a insatisfação do São Paulo, todos eles envolvendo o atacante Tapia. A lista de queixas do presidente Julio Casares, que contatou imediatamente o presidente da CBF, Samir Xaud, é extensa e problemática : um pênalti não marcado em Tapia após ação de Allan, uma falta não marcada que, na sequência, deu origem ao primeiro gol do Verdão. Além disso, houve as não-expulsões de Andreas Pereira (por um pisão) e de Gustavo Gómez (por uma cotovelada que causou sangramento no rosto do atleta).

Para completar o cenário, o São Paulo também reclamou que o VAR, supervisionado por Ilbert Estevam da Silva, sequer convocou o árbitro de campo para analisar os lances na tela. O mais irônico é que, conforme divulgado, Casares ouviu de Xaud e do coordenador-geral de arbitragem, Rodrigo Cintra, que o São Paulo “tem razão” nas contestações. Simplesmente inacreditável.

O aperfeiçoamento do retorno e o cinismo da reavaliação

O que seria da crônica esportiva sem a penalização quase cerimonial do árbitro que comete erros? Em um desdobramento que beira o cômico, Ramon Abatti Abel – o juiz principal da partida – e Ilbert Estevam da Silva – o responsável pelo vídeo (VAR) – foram encaminhados para “treinamento, aprimoramento e avaliação interna”. A CBF, com sua terminologia cautelosa e modernizada, prefere não utilizar vocábulos como “reciclagem” ou “afastamento”. Contudo, esta não é a primeira ocasião em que Abatti Abel se envolve em controvérsias por equívocos que beneficiaram o Palmeiras.

No final de outubro do ano anterior, ele já havia sido afastado pela CBF após polêmicas a favor do Verdão em um empate contra o Fortaleza. A diferença reside no fato de que o novo “castigo” agora é denominado “aprimoramento” por “equívocos de interpretação”. É praticamente um escárnio. O árbitro regressou ao campo de jogo em menos de um mês em sua última “reciclagem” , e agora, após o tumulto no Choque-Rei, é agraciado com uma nova oportunidade para reaprender as regras.

O custo da hegemonia e o sabor azedo da injustiça

A supremacia do Palmeiras no Morumbis, inegável nas estatísticas do Brasileirão, é obscurecida pela suspeita. Os três pontos que alçaram o Verdão à liderança da tabela foram obtidos, segundo a própria CBF, com flagrantes falhas de arbitragem. O futebol, que já presenciou o Palmeiras anular um jejum de 16 anos em 2018 com gols rápidos de Gustavo Gómez e Deyverson , agora testemunha o time alcançar triunfos que sugerem uma intervenção divina – ou, neste caso, uma intervenção humana falha.

Não se trata de desqualificar a força do elenco de Abel Ferreira, que se mostra implacável e que levou a melhor nas duas últimas fases eliminatórias do Paulistão contra o adversário. A questão reside no custo ético dessas vitórias. O Palmeiras reverteu o tabu, mas as polêmicas de arbitragem parecem ter se tornado o novo e indesejado padrão do Choque-Rei.

A controvérsia como tradição

Em última análise, o clássico São Paulo 2 x 3 Palmeiras deste domingo (5) apenas reforça uma triste prática do futebol nacional: a partida não se encerra no apito final; ela se prolonga nas reclamações dos dirigentes, nas negociações nos bastidores da CBF e nas sanções superficiais aos árbitros. O torcedor lida com a dor da derrota e a convicção de que o revés de supremacia foi concretizado, mas a frustração da impunidade tempera o sentimento, ou, pior, a ‘reciclagem’ ineficaz..

Talvez a verdadeira marca superada não tenha sido a invencibilidade do São Paulo em casa, mas sim a esperança do torcedor em uma arbitragem imparcial e minimamente capaz. E neste novo costume, todos saem perdendo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima